Projeto de alfabetização e letramento para adultos e idosos, desenvolvido pela Associação Mãos e Sonhos Rosa Teixeira, proporciona dignidade e novas oportunidades
Saber ler e escrever é uma ação tão corriqueira e banal para boa parte das pessoas, que a maioria sequer tem a percepção de que essas habilidades são fundamentais no seu cotidiano. Mas, para dona Márcia Catilio Michel, de 66 anos, conseguir assinar o nome, fazer contas básicas, ganhar seu próprio sustento e entender o que está escrito no itinerário do ônibus do transporte coletivo representam a libertação da dependência financeira e do direito de ir vir que a limitavam. Ela tem a medida exata da importância da alfabetização na vida de um indivíduo e de quanto a falta dela – situação que atinge, ainda, mais de dez milhões de brasileiros – traz prejuízos sociais, financeiros e emocionais. “Minha vida mudou demais nos últimos três anos, e mudou para muito melhor”, conta dona Márcia. E faz questão de repetir para que não fique nenhuma dúvida: “Tudo isso aconteceu depois que conheci a Tarcilla e aprendi a aprender a ler e a escrever no projeto dela”.
A mulher a que dona Márcia se refere é Tarcilla Suzy Teixeira Lourenço e o projeto que deu um novo sentido à sua vida é o curso “Alfabetização, letramento e fábulas no despertar dos sonhos”, realizado em parceria com o Instituto Federal de Goiás, em Anápolis, e idealizado por Tarcilla, que a partir dessa proposta criou a Associação Mãos e Sonhos Rosa Teixeira, há quatro anos. O objetivo é oferecer a iniciação às primeiras letras a adultos, especialmente idosos, com pouca ou nenhuma instrução escolar.
As aulas são realizadas aos sábados, no IFG Anápolis, e por elas já passaram dezenas de pessoas em busca da oportunidade que, por motivos diversos, lhes foi negada na infância: o acesso à alfabetização. E foi na primeira aula de que participou que Márcia Catilio descobriu, surpresa, que este era o nome registrado em sua certidão de nascimento. Até aquele dia acreditava chamar-se Maria. Órfã de pai e mãe, desde criança trabalhou em casas de família para sobreviver, antes dos 20 anos se casou, continuou a trabalhar e jamais conseguiu estudar.
Antes de conseguir se alfabetizar, ela se sustentava com R$ 150 repassados pelo ex-companheiro e com a doação mensal de uma cesta básica feita pela Associação Mãos e Sonhos que, além do projeto de alfabetização, desenvolve outras ações de assistência como a doação e alimentos e outros itens a pessoas em situação de vulnerabilidade.
“Depois que aprendi a ler e escrever, abri um pequeno bar e consigo pagar minhas contas sem precisar mais da ajuda das pessoas. Agora, tenho meu próprio negócio. Tenho orgulho de mim mesma”, diz, emocionada. Segundo Tarcilla, certo dia chegou à casa de Márcia para deixar, como todos os meses, a caixa com produtos alimentícios e ela lhe disse para doá-la para outra pessoa, pois não precisava mais.
Histórias de vidas que foram transformadas, de superação e conquistas, como a de Márcia Catilio, são várias, diz Tarcilla. Ela destaca a de um dos participantes do curso, cujo principal anseio era obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), impossível sem saber ler e escrever. “Na segunda tentativa, ele conseguiu a CNH que tanto queria e precisava”, diz. Segundo Tarcilla, o projeto de alfabetização e o trabalho que realiza por intermédio da Associação, mantida com doações e o apoio de 16 voluntários, também mudou sua vida, ajudando-a a superar um quadro sério de depressão. “Hoje tenho uma razão para lutar, uma causa para defender”, afirma.
Moradora do bairro Copacabana, região sudoeste de Anápolis, a pedagoga Tarcilla Suzy conta que a ideia de fazer algo para alfabetizar os idosos surgiu quando trabalhava como mesária em processos eleitorais e via a dificuldade e o constrangimento por que passavam na hora de assinar o nome. “Decidi que queria e podia fazer alguma coisa reverter essa situação”, relata.
Em meio à divulgação do projeto nos bairros próximos ao IFG Anápolis, percebeu que havia muita gente precisando de todo tipo de ajuda e, então, começou a arrecadar doações e a realizar sonhos, como, por exemplo, o de conhecer Goiânia, ou simplesmente, comer panquecas.
“Coisas simples, que não representam nada para alguns, mas que se apresentam como sonhos quase inatingíveis para outros”, destaca.
Campanha de Natal
Nesse final de ano, a Associação Mãos e Sonhos Rosa Teixeira está realizando campanha para arrecadar cestas básicas para distribuição aos idosos assistidos pela entidade.
Segundo Tarcilla, no momento, são 150, dos quais 100 somente no projeto de alfabetização. “Estamos pedindo cestas pequenas, no valor de R$ 60, que já vão ajudar muito a quem está precisando”, diz ela. Para doar, basta entrar em contato pelo WhatsApp 99579 4942, e para conhecer um pouco mais sobrea a Associação, é só visitar o perfil @associacaomaosesonhos, no Instagram.
